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Instituto Público

Um ponto de encontro de ideias.

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A oitava vida de Portas

 

Às vezes esquecemo-nos que os “líderes históricos” não são propriedade dos partidos da extrema-esquerda. Talvez essa predominância exista fora de portas, mas Portugal, claro, é diferente.

 

À excepção do interlúdio de Ribeiro e Castro, entre 2005 e 2007, Portas está ao leme do CDS desde 1998. Valoroso líder aquele que consegue ficar por 15 anos no poder sem oposição de relevo.

 

Portas, lembre-se, começou como jornalista anti-poder no Independente. Muitos já não se lembram deste fantástico vídeo em 1993, onde Portas garante nunca ser um “desses” - tanto assim que até ‘passaria para o outro lado’ (sic) caso um seu amigo iniciasse uma carreira política.

 

Certamente muitos, dentro e fora da política, já deram o dito por não dito muitas vezes. Pode acontecer a qualquer um, mesmo que tenha a melhor das intenções. Portas consegui-o, no entanto, um espectacular número de vezes: 9 anos depois de tão frontais declarações era ministro da Defesa e a segunda figura do governo. Flutuou pelo caso dos submarinos com uma agilidade notável. Abandonou a liderança do CDS depois de uma derrota estrondosa, apenas para voltar menos de dois anos depois.

 

Sempre com a energia normalmente atribuída a uma ‘cara nova’ em política, Portas pegou no CDS onde o tinha afundado e lançou-o de novo. Um muito positivo resultado eleitoral em 2011 trouxe-o de volta ao governo. Este regresso tinha tudo para prometer mais espectáculo, e Portas não desiludiu. Qual Berlusconi à Portuguesa (a Moderna é uma versão atarracada das festas bunga-bunga), qual fénix do showbiz político, Portas consegue a proeza de viabilizar e simultaneamente opor-se às medidas que o governo que integrava ia impondo aos portugueses.

 

O melhor estava reservado para o episódio da saída de Vítor Gaspar. Descontente com a solução que Passos arranjou (substituir o ministro pela então secretária de estado das finanças, Maria Luís Albuquerque), Portas bate com a porta, anuncia a sua saída irrevogável e fecha-se no seu quarto. Volta dois dias depois, dá o dito por não dito, consegue a proeza tão inacreditável quanto hilariante de reforçar os seus poderes (passa, oficialmente, a vice-primeiro-ministro) e os do seu partido (Pires de Lima substitui o Álvaro na pasta da Economia). Uma conduta tão responsável e conscienciosa só podia levar a uma promoção. Continuou a vida, continuou o governo, fiel ao programa da reforma do estado, uma autêntica (e sentida, tenho a certeza) homenagem à arte do nacional-porreirismo e de nada dizer, aumentando o tipo de letra até ao número de páginas atingir um nível aceitável.

 

Mas quem tem boa imprensa é António Costa.

 

O percurso de Portas é extraordinário e seguramente já nos entreteve a todos várias vezes. Se Portas conseguir uma boa votação nas próximas legislativas, não é Portas e o CDS que estão a passar um atestado de incompetência aos portugueses. São os portugueses que o estão a assinar.

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