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Instituto Público

Um ponto de encontro de ideias.

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Um ponto de encontro de ideias.

Um tubo de ensaio chamado Syriza

 

"Com resultados eleitorais verdadeiramente explosivos, este regresso à democracia deve ter provocado cólicas em Bruxelas, Berlim e tantas outras capitais europeias" - aos 22 anos, acabei de cometer a suprema arrogância da auto-citação, agravada por começar o meu próprio texto a citar-me.

 

Não se preocupem: é para dizer que estava errado. Quais resultados explosivos. O Syriza ganhou, ficou a 2 assentos parlamentares da maioria absoluta e para adicionar à combustão, coligou-se com um partido eurocéptico e superconservador. A política grega já domina a ordem do dia, mas se estes anos não tivessem sido marcados pela austeridade a sul da Europa, não se falaria de outra coisa - nem do Benfica. Imagine-se, em Portugal, o Bloco de Esquerda ganhar as eleições, ficar a dois lugares da maioria absoluta e ir coligar-se com a grupeta que o Manuel Monteiro formou há uns anos. 

 

Queria que o Syriza ganhasse. Espero que o Syriza e os Gregos Independentes façam o trabalho de heróis que agora lhes é exigido. No entanto, uma vez confirmada a vitória do Syriza, estou céptico. Talvez não seja cepticismo; muitos comentadores atribuem cepticismo ao facto de simplesmente não fazerem a mínima ideia do que se vai passar. Eu não sei. Eu não faço ideia, embora tenha noção das consequências de cada um dos caminhos que a situação pode tomar. Sei que, se a Grécia conseguir um (segundo) perdão de dívida e/ou uma renegociação, isso são boas notícias para todos os países do Sul, que deverão procurar o mesmo, talvez numa frente comum (uma conferência sobre a dívida, por exemplo, tal como proposto pelo Syriza). Sei que se não conseguir e o Syriza sofrer qualquer processo de hollandização, o desespero tomará conta dos Gregos em proporções muito maiores do que até aqui e que a democracia na Grécia fica por um fio - se absolutamente nada e nenhuma das opções funcionam num regime com cerca de 40 anos, o regime fica em causa.

 

Em todo o caso, são tempos fascinantes para se viver. Assistir a um governo grego de extrema-esquerda coligado com a direita conservadora, no início da segunda metade do século XXI é algo que nem há 5 anos, já com a crise grega bem instalada, seria previsível. A volatilidade do mapa político-partidário na Grécia deve alertar toda a Europa para preservar não só o país, mas o continente - só acontece e com esta intensidade na Grécia porque o país foi dizimado nestes últimos anos.

 

Uma coisa é certa: A Grécia, independentemente dos paralíticos e dos ministros corruptos que o José Rodrigues dos Santos encontrou, não aguenta mais austeridade, à mesma dose e ao mesmo ritmo. E argumentos morais sobre a dívida não pegam. É aqui que vão soar todas as campainhas a acusar-me de demagogia, mas: então a um país que elegeu um ditador maníaco que exterminou seis milhões de judeus 62% da sua dívida renegociam-se taxas de juro, mas um país que sobrendividou e onde, diga-se, há muita mais fraude fiscal que no resto da Europa, não há perdão? Não me lixem. 

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